quarta-feira, 24 de março de 2010

Fofurinhas

Todo mundo diz: "As pessoas em NY? Ah, são muito grossas!".

Tudo bem, eu também sou grossa às vezes, venho do Rio de Janeiro, brigo no trânsito, discuto com flanelinha (todo stress envolve carro na minha vida). Tô acostumada!
Eis que eu descobri que existe um nível de grosseria que transcende as relações humanas e a convivência civilizada em sociedade. E foi aqui.

É assim: ninguém aqui tá de bobeira, de sacanagem ou tem tempo a perder. Não sei se eles são grossos de propósito ou se simplesmente são tão egocentristas que não se importam de falar certas coisas ou agir de certa maneira com as outras pessoas. Uma coisa que notei também, é que não são só os nova iorquinos que são assim, é algo que você adquire com a convivência na cidade! Que maravilha, pra mim que já sou uma pessoa nada paciente, vai ser tiro e queda. Me aguardem.

Em menos de dois meses que estou aqui já passei por alguns casos desagradáveis. Na verdade quanto mais tempo eu deixasse passar, mas história eu teria para contar (eu sei que isso não acaba aqui!), mas ontem me aconteceu uma que eu queria ter filmado. Então acho melhor falar logo senão eu esqueço (minha memória não funciona). Bom, vou citar algumas situações:

- Tudo começou quando eu cheguei a NY. Vim pra cá da Flórida, com 3 malas e uma bolsa. Saindo do aeroporto tive que pagar U$5 pro cara levar minhas malas até o taxi (era o mesmo preço do aluguel do carrinho). Sabe a entrada do seriado Felicity? Era eu, muito mais carregada, olhando da janela do táxi para ver a cidade e muito animada! Até que ele chegou ao endereço da minha 'hospedagem', e hoje entendo porque (eu não sabia que tinha que dar gorjeta), mas ele até tirou as minhas malas do carro - e deixou no meio da rua. Nem levou até a calçada! 3 malas!!! Ok.. eu ainda estava tomada pelo espírito encantador que é o de quem chega a um lugar novo, e lá fui eu tentar carregar tudo. Para entrar no meu prédio são duas portas que tem que abrir, pra fora (não dá nem pra ir empurrando), e tem 3, repito, 3 seguranças na mesa. Sabe o que é todo mundo me olhar do meio da rua tentando sem sucesso (elas iam caindo no chão) levar 3 malas até o interior do prédio sem mover UMA palha?! Nem abrir a porta!!! Aí eu fui lá dentro (deixei minhas malas no asfalto) e falei: "Oi, eu estou chegando hoje, tem alguém que possa me ajudar com as malas?" Eles: "Não." Nãaao! Do tipo "não faz parte do nosso serviço". Voltei pra rua e depois de alguns minutos e quase suar no frio, levei tudo pra dentro.

- Fui comprar uma TV. Tinha uma de 32 polegadas muito barata, o preço de uma de 28, que era a que eu ia comprar inicialmente, então fechou. A dúvida era se ela ia caber no meu quarto, mas enfim, lá fui eu. O frete deles era de U$50, sendo que eu morava a 6 quadras da loja. Aí eu pensei, por esse preço, pego um táxi. O cara da loja, que tinha aquele carrinho de mão, disse que levava se eu desse uma gorjeta pra ele. Aí eu logo falei: tabom! U$5? Aí ele: U$20. Po!!!
Lá fui eu chamar um táxi - o cara do carrinho até fez a gentileza de colocar a TV no porta mala (que nem fechava). Quando o taxista chegou na minha casa e eu o paguei (de novo não dei gorjeta porque não sabia), saí do taxi e vi que ele nem se mexeu! Uaaaahhhh, eu ia ter que levar a TV sozinha! O arrependimento já tomava conta de mim... mas como eu sou da geração "deixa comigo, não preciso de ninguém" (até porque nem tinha essa opção né), fui lá carregar. Enfim, é impossível explicar com palavras como foi carregar uma caixa do tamanho dos meus braços abertos e muito pesada. Ninguém abriu nenhuma das duas portas pra mim, de novo, e ainda tiveram a audácia de falar: "Look who's got a brand new flat screen TV!" Assholes.

- Quando eu decidi vir pra cá, escolhi um curso na School of Visual Arts, que começava no dia 3 de fevereiro e me fez adiantar tudo e fazer tudo correndo. Pois bem, cheguei aqui no dia 3 só para começar no curso. Entrei no site para ver o endereço correto, quando vejo "Course status: canceled"! O quêêê??? Liguei pra lá para saber, e a mulher falou que eles ligaram para a minha casa (do meu pai) e deixaram recado. Não tinha recado nenhum, e eu não recebi nem um e-mail. Enfim, como eu ainda era uma pessoa relativamente civilizada ficou por isso mesmo. Como eu já tinha pago pelo curso, eu recebi um e-mail dizendo que eu tinha que ligar para lá para dar as informações do cartão que eu tinha usado para eles devolverem o dinheiro.
Ahhh, mas que abuso! Liguei pra lá REVOLTADA. Pra começar a mulher não conseguia me achar na lista de alunos, porque ninguém entende quando eu falo PINHO, e nem mesmo soletrado. Depois de muito tempo me achou e aí deu mais algum problema, aí eu falei: "Olha só, eu vim correndo para NY fazer um curso que NINGUÉM me avisou que tinha sido cancelado, eu descobri por sorte, me mandam um e-mail pra dizer que eu tinha que ligar para vocês. Como assim? Vocês que tinham que me ligar!" Aí ela: "Senhora, a mulher que trabalha com isso é surda e não pode falar no telefone". =0. Mas como eu tava embuída do espírito da impaciência: "Ah, mas eu não acredito que não há ninguém nessa instituição que seja capaz de ouvir e ligar para os alunos!". Enfim, a gente continuou discutindo... e isso já me aconteceu diversas vezes com atendimentos pelo telefone.. não é que nem aquele pessoal da NET, Oi, Globo, que quando nos irritam a gente xinga a vontade que eles não falam nada. A mulher ficava: "Eu estou tentando te ajudar, mas estou me sentindo atacada!!!" Começou a fazer um drama imenso. E depois a ME atacar! Enfim, espero nunca mais querer fazer outro curso na School of Visual Arts.

- Pedi uma pizza outro dia. Eram 3 horas da manhã e aqui os deliverys de pizza vão até às 5h. As duas grandes pizzarias aqui são a Domino's e a Pappa Johnes. Como a segunda não tem no Brasil, liguei pra lá para experimentar. Vi no site alguns sabores, alguns preços, mas sabe, queria discutir minhas opções com o cara que me atendeu. Pois bem, escolhido o sabor e o tamanho, ele falou: U$12 pela pizza pequena. Sendo que eu vi no site bem grande: Qualquer pizza grande U$10. Falei pra ele: "olha, mas aqui tá dizendo que a pizza grande é R$10." Aí ele: "não, não é." Aí eu: "Tem certeza?" Ele: "Olha, você vai querer ou não?" Como eu estava faminta e não queria de fato uma pizza grande, resolvi não discutir por U$2. Agora sério, qual é a pressa que ele estava que não podia atender bem um cliente às 3h da manhã??! Da próxima vez eu chamo a Domino's.

- Finalmente, ontem. Fui a Starbucks, que estava uma fila imensa e a mulher do caixa claramente estressada. Aí eu, com a minha cara de brasileira simpática e compreensiva: "Oi, eu queria por favor um café pequeno com bastante espaço para o leite." Ela certamente pouco se importou com a minha observação e encheu meu café até a boca. Aí eu abri a tampinha e falei: "Eu pedi bastante espaço para o leite". Eu não acreditei, mas ela olhou pra mim, pegou meu café e derramou quase TUDO, deixando, sem exagero, 2 dedos de café no copo. "Tá bom assim?". Eu não sabia se eu ria ou chorava... falei com muita paciência: "Hum... não, agora foi demais." Ela encheu de novo derramando café por toda parte e amaldiçoando todas as gerações da minha família. Logo eu, que falei tão bem da Starbucks outro dia!

Muito mais coisa já aconteceu comigo aqui, são essas pequenas coisas que fazem a gente querer chegar em casa do fim do dia, abraçar o ursinho e ligar pra mãe. Mas agora eu já me acostumei e acho até que minha educação, na qual meus pais investiram tanto, está se esvaíndo com o tempo. Outro dia fui pegar o elevador aqui e tinha uma mulher dentro, que viu que eu tava chegando, mas a porta começou a chegar mesmo assim. Eu berrei (porque ela tava no telefone): "SUCH A NICE PERSON!" Quando ela virou pra mim e falou: "Eu estava tentando abrir a porta para você."Ops.

No dia que eu tava saindo do prédio pra ambulância de cadeira de rodas, acompanhada de dois para-médicos e a diretora do prédio, o segurança abriu a porta pra mim. Se não fosse a minha dor eu bem devia ter gritado: "AGORA você abre né!"

As pessoas aqui seguem a filosofia "by the book": fazem tudo que teoricamente elas têm que fazer - e só. Totalmente diferente dos brasileiros! Por exemplo, se você for em lojas aqui como a American Eagle, as vendedoras vão se tornar suas amigas de infância em 5 minutos. Elas literalmente param para conversar com você com aquele jeito: "OMG (Oh my God)! Eu comprei essa camisola (que eu estava segurando), e sabia que você pode usar pra sair a noite?!" Daqui a pouco ela volta com leggings e um colar: "Fica maravilhoso! De onde você é?!" E assim começa uma linda, verdadeira e duradoura amizade. Aí no fim ela fala: "Se perguntarem se alguém te ajudou, já sabe né?" Nas lojas aqui, te perguntam no caixa se algum vendedor te ajudou, por isso eles são tão "simpáticos", porque devem ganhar mais conforme os clientes vão dando os nomes deles no caixa!

A mesma coisa nos restaurantes. A garçonete vem com um sorriso de orelha a orelha e toda resposta é : "Sure!" "Absolutely!", quando ela vira, dá pra perceber a cara dela fechando. Uma sinceridade só! Pra quê? Gorjeta! Ou seja, existem sim pessoas simpáticas... é só pagar!

É por isso que, depois de já ter feito meu estoque de produtos "I Love NY", meu próximo objeto de desejo é:


5 comentários:

Anônimo disse...
25 de março de 2010 às 14:45  

HAHAHAHAHA

Ahh, americanos sempre serão americanos.

Mas é como no Brasil, alguns são muito simpáticos e outros são muito antipáticos. Quando eu estive nos EUA algumas pessoas me trataram super bem, principalmente estranhos na rua. Quando eu me perdi, teve um senhor que ligou pro hotel pra perguntar o caminho, do celular dele!!

Agora, em lojas ou qualquer instituição do governo as pessoas vão te tratar como merda!! É impressionante. Com exceção de vendedores, claro, que te tratam como melhores amigos, como você disse. E no aeroporto? Tratam muito mal.

E na Casa Branca?? Uma pobre japonezinha enconstou levemente na corrente de segurança na tentativa de tirar uma boa foto, e o segurança gritou tanto com ela que deu pena. E no Arlingtom Cemitery?? É clima de cemitério mesmo, e eu batendo papo no monumento dos soldados desconhecidos, e aí o guarda novamente gritando grassamente que aquele era um lugar de respeito.

Respeito?? Tá aí algo que americanos não são muito bons... eles são até educados, e muito, mas respeito???

Unknown disse...
25 de março de 2010 às 23:41  

Amiga que saudades de vc! Descobri esse blog ontem, to viciada me divertindo aqui com suas historias... muito vc... imagino perfeitamente vc contando.... vc fica em NY ate quando?? depois vai p/ seu pai??? quero muuuito passar 1 semaninha c/ vc, + so posso na final do ano... te amo! beijos Julia Barros

Unknown disse...
29 de março de 2010 às 13:46  

hahahaha... tá se fudendo muito heim Karen.

NY realmente é muito sinistro... mas sabe pq? todo mundo que te atende é INDIANO.

Eu criei um apelido pra eles.. são os Gátrus (I gat tru the imigraxu --> com sotaque indiano)

Eles são feios, mal educados e NÃO entendem corretament o inglês...pq eu falo direitinho...e eles nãoooooo.

Odeio muito.

mas assim, Na Florida as epssoas são muito simpáticas. parece que todas elas cheiram o pó da felicidade todo dia pela manhã...é uma coisa linda.

ps-eu tb como bom grosso, me dei muito bem com o povinho daí.

João disse...
29 de março de 2010 às 16:46  

Você devia ter praticado mais comigo, ter pego um pouco de minha comunicação "objetiva"...rs

Karen Pinho disse...
30 de março de 2010 às 00:40  

Hahah Pedro, você sempre me diverte com as histórias. Você devia ser tipo colunista daqui (super importante né?!).

Guito, tem razão! Mas rola muuuito mais do que indiano, o povo vem de tooodo lugar! Eu sou muito ignorante e não sei distinguir.

É vero gato, aqui eu tinha que ser menos eu mais você! Huhu!

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